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A vida espiritual

Este artigo aborda o significado de vida futura, usado por Kardec nas obras espíritas. São apresentadas pontos sobre o entendimento judaico, dos cristãos em geral e finalmente, do Espiritismo.
A vida espiritual
Por Gilton Carlos 16/05/2024

(Este artigo faz referência ao item "A vida Futura" do Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. 2, itens 2 e 3)

A vida futura é uma expressão usada por Kardec e os Espíritos na codificação para referir-se a vida espiritual.

Vimos que no encontro com Pilatos, Jesus refere-se a ela como Verdade. Diariamente, nos estudos espíritas dizemos simplesmente vida espiritual. O importante é entender a ideia e que, neste contexto, são sinônimos.

Isto porque os ensinos morais de Jesus e do Espiritismo tem essa mesma base. Quer dizer, tudo aquilo ensinado que se refere a prática do bem [1] está justificada pela existência do espírito e a realidade espiritual.

Pela existência predominante da vida espiritual sobre a vida material. É a realidade primeira, mais importante, duradoura, eterna, como destacado na Introdução de O Livro dos Espíritos:
 
O mundo espírita é o mundo normal, primitivo,
eterno, preexistente e sobrevivente a tudo.
O mundo corporal é secundário; 
poderia deixar de existir, ou não ter jamais existido, 
sem que por isso se alterasse a essência do mundo espírita.

Por esta razão, dizem Kardec e os Espíritos, deve ser o objeto de nossas maiores preocupações na terra. Ou mesmo repetindo as palavras de Jesus: buscai primeiramente o Reino e a sua justiça, e todas estas {coisas} vos serão acrescentadas.[2].

Por esta razão, tanto os ensinos de Jesus que teve seu coroamento na ressurreição quanto as evidências científicas apresentadas pelo trabalho de Kardec fazem com que os ensinos espíritas se oponham às ideias materialistas, nos explicando, pela demonstração dos fatos, a razão do perdão, da resignação, da humildade...

Um dogma?No Evangelho, Kardec chama este ponto de dogma. Mas, ouve-se com frequência que na Doutrina Espírita não existem dogmas.

É que esta palavra pode ser entendida de formas diferentes, sem prejuízo ou contradição.

Inicialmente, na religião tradicional, eram pontos que se não se podia convencer ou explicar, era posto como algo que não se discute, como verdade que não deve ser debatida. Por outro lado, pode ser também o ponto fundamental de uma fé ou doutrina. Este é o sentido que o codificador adota.

Quer dizer, a vida espiritual é o ponto fundamental no qual os ensinos morais estão assentados.

ConsequênciasEntender a vida espiritual e sua importância, nos faz mudar o ponto de vista das situações que vivemos.

Se antes, sem a perspectiva futura, os conflitos e os sofrimentos nos golpeavam sem piedade, agora com a visão da alma como parte do ser, tanto as experiências sofridas quanto as alegres se transformam em experiências que mostram nossa necessidade de crescimento para o bem e desenvolvimento de virtudes e a bondade de Deus em nossas vidas.

Esta visão é a que nos faz entender, ao lado da reencarnação, as anomalias da vida terrena com justiça. É assim que se explica como aqueles que seguem a Jesus agem de maneira tão distinta e chocante para os que têm o pensamento materialista ainda muito forte dentro de si:

Mostram como segui-lo.
Afirmam ser preciso morrer.
Referem-se à salvação.
Sofrem com alegria.
Esforçam-se e perdoam sem distinção.
Buscam a renovação íntima.
Doam seu tempo, sua saúde, seus bens em prol do outro.
Toleram e compreendem os que os atacam e ofendem.
Em tudo, contrariam o pensamento materialista.

Este embate entre os pensamentos espíritas com o materialista foi abordado por Kardec em sua obra O que é o Espiritismo [3] no qual põe o seguinte diálogo:

Um livre pensador. — Há pouco proclamastes a liberdade de pensamento e de consciência, e declarastes que toda crença sincera é respeitável. O materialismo é uma crença como outra qualquer; por que negar-lhe a liberdade que concedeis a todas as outras?

A. K. — Cada um é, certamente, livre de crer no que quiser ou de não crer em coisa alguma; e não toleraríamos mais uma perseguição contra aquele que acredita no nada depois da morte, assim como na promovida contra um cismático de qualquer religião.

Combatendo o materialismo, não atacamos os indivíduos, mas sim uma doutrina que, se é inofensiva para a sociedade, quando se encerra no foro íntimo da consciência de pessoas esclarecidas, é uma chaga social, se vier a generalizar-se.

A crença de tudo acabar para o homem depois da morte, que toda solidariedade cessa com a extinção da vida corporal, leva-o a considerar como um disparate o sacrifício do seu bem-estar presente, em proveito de outrem; donde a máxima: “Cada um por si durante a vida terrena, porque com ela tudo se acaba.”

A caridade, a fraternidade, a moral, em suma, ficam sem base alguma, sem nenhuma razão de ser.

Para que nos molestarmos, nos constrangermos e nos sujeitarmos a privações hoje, quando amanhã, talvez, já nada sejamos?

A negação do futuro, a simples dúvida sobre outra vida, são os maiores estimulantes do egoísmo, origem da maioria dos males da Humanidade.

Vida Espiritual: JudeusA crença na vida espiritual estava presente entre os Judeus, embora nem todos fossem adeptos desta ideia, como parece ser o caso dos Saduceus.

Em relação aos demais, em geral, a ideia era imprecisa e vaga. Kardec explica a crença nos anjos, no entanto, como seres especiais da criação divina, sem relação com a humanidade. Isto é, não haveria como a pessoa de hoje tornar-se um anjo amanhã.

Esta diferença é colocada em virtude de as revelações do mundo espiritual mostrarem que todos podem e serão seres espirituais na condição de perfeição e bondade que estamos destinados.

Àquela época, a relação com Deus se resumia as consequências materiais e da vida terrena apenas. Isto é, obediência às leis de Moises significava proteção contra os inimigos, prosperidade etc. A ocorrência de pestes, calamidades, sofrimentos coletivos eram vistos como falta de observação a Deus.

O Espírito Israelita que assina uma mensagem no cap. 1 do Evangelho segundo o Espiritismo, no item 9, reafirma que Moisés não pôde ir muito além nos ensinos espirituais, tendo em vista suas experiências mediúnicas, visto a mentalidade e maturidade intelectual somente ser capaz de entender o Criador por meio dos sacrifícios, por exemplo, sendo inconcebível a ideia de amor aos inimigos.

Porém, com o passar do tempo de aproximadamente 1200 anos, com o povo judeu e a humanidade como um todo, mais amadurecidos, vem Jesus aprimorar o conteúdo espiritual da vida e adequar ao nível intelectual e moral do planeta.

Ele mostrou outra vida. Não somente falou, mas demonstrou pelos fatos. E se não fosse suficiente, coroou seus ensinos espirituais com a ressurreição, ou seu retorno ao convívio em diversos fenômenos de materialização.

E, tema central deste capítulo, demonstra pela sua tranquilidade e segurança diante de Pilatos que a justiça se cumpre na vida espiritual.

Embora tenha avançado a ponto de causar uma revolução, ainda assim conformou seus ensinos ao momento evolutivo daqueles que estiveram com ele, embora deixando ao alcance de todos a certeza de que ninguém foge a este princípio: todos somos espíritos!

Vida Espiritual: CristãosTodos os cristãos acreditam na vida futura, isto é, na vida espiritual.

No entanto, até o surgimento do Espiritismo, a ideia ainda é vaga, incompleta, caracterizada por uma crença sem fundamento, donde decorre que muitos passam a duvidar, outros até a descrer.

Finalmente, o Espiritismo e o mundo EspiritualCom a doutrina espírita toda dúvida se desfez.

Não são mais ideias ou aquela crença distante da qual se tinha poucas informações.

Agora os fatos o demonstram. O que faz diluir e desaparecer as incertezas a cerca de nosso futuro e passado.

Nas palavras de Kardec “A descrição da vida futura é tão circunstanciadamente feita, são tão racionais as condições, ditosas ou infortunadas, da existência dos que lá se encontram, quais eles próprios pintam, que cada um, aqui, a seu mau grado, reconhece e declara a si mesmo que não pode ser de outra forma. Porque assim sendo, patente fica a verdadeira Justiça de Deus”.[4]

O mais interessante é que são as próprias testemunhas daquele mundo que o vêm descrevê-lo ou nos revelar. Importante organização deste material com relatos, experiências, estudos são mostrados na obra especial de Allan Kardec: O céu e o inferno.


Referências[1] Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Seguido de biografia de Allan Kardec por Henri Sausse (Série Espírita 1) (p. 15). Edição do Kindle.
[2] Mateus 6:33.
[3] Kardec, Allan. O que é o Espiritismo. Com biografia de Allan Kardec por Henri Sausse: Texto integral (Série Espírita Livro 6) . Edição do Kindle.
[4] Kardec, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo: Texto Integral (Série Espírita Livro 3) (p. 40). Unknown. Edição do Kindle.